O primeiro encontro oficial entre os super-heróis Marvel e DC foi protagonizado pelos maiores ícones das duas editoras.
Quando se reuniram em 1975 para produzir uma adaptação do clássico O Mágico de Oz, Marvel e DC Comics abriram um precedente e criaram a expectativa da iminente realização de um sonho que povoava a mente de dez entre dez leitores de gibis de super-heróis: ver os personagens das duas grandes editoras juntos em uma mesma HQ.
Curiosamente, anos antes, alguns quadrinhistas trataram de oferecer um aperitivo daquilo que se tornaria corriqueiro no linguajar dos fãs de quadrinhos: os crossovers. Em março de 1971, na última página da revista Aquaman # 56 (DC), o herói da Liga da Justiça criou, inadvertidamente, um grotesco monstro aquático. Foi a derradeira edição daquele gibi e o plot ficou perdido.
Entretanto, em 1974, o argumentista Steve Skeates, que havia escrito aquela história, estava trabalhando na Marvel e usou a antiga ideia em Sub-Mariner # 72, repetindo as últimas sequências dos quadrinhos de Aquaman # 56. Assim, os leitores mais atentos (e que acompanhavam as aventuras dos dois heróis) puderam identificar a mão do outro soberano dos mares na história de Namor, apertando com um dedo o botão de um dispositivo que deu vida ao monstro.
As revistas Justice League of America # 103 (DC, 1972), Amazing Adventures # 16 (Marvel, 1973) e Thor # 207 (Marvel,1973) também apresentaram um vislumbre do que poderia ser um crossoverentre os personagens daquelas editoras. Graças a Steve Englehart, Gerry Conway e Len Wein, que depois de assistir a uma parada anual de Halloween na cidade de Rutland, nos Estados Unidos, decidiram escrever nos respectivos gibis em que trabalhavam uma aventura envolvendo os heróis fantasiados da editora “concorrente”.
As participações se limitaram a personagens figurantes vestidos de super-heróis em desfiles de carro aberto, mas em Justice League of America # 103 a ousadia foi mais longe. O vilão Félix Fausto dominou a mente dos fantasiados e lhes concedeu superpoderes. O resultado foi “Capitão América”, “Homem-Aranha”, “Hulk” e outros heróis da Marvel enfrentando a Liga da Justiça.
Mas foi somente em 1975 que os crossovers entre Marvel e DC começaram a ganhar forma, quando o agente literário e escritor David Obst resolveu levar a sério o que parecia apenas desejo impossível de leitores ou brincadeira de quadrinhistas.
Depois de procurar Stan Lee e Carmine Infantino, respectivamente editores-chefes da Marvel e daDC, Obst os convenceu a apostar na ideia do que batizou de “A batalha do século”: Superman contra Homem-Aranha, o primeiro encontro oficial entre os personagens das duas maiores editoras de quadrinhos do planeta.
E em janeiro de 1976, há exatos 40 anos, a revista Superman vs. The Amazing Spiderman foi lançada nos Estados Unidos.
Com roteiro de Gerry Conway, desenhos de Ross Andru e arte-final de Dick Giordano, a aventura foi publicada em formato gigante (conhecido nos EUA como
treasury comics) e a expectativa foi atendida com uma divertida história – simples, mas bem contada.
O clichê “herói encontra herói e parte para a pancadaria” funcionou bem. E a briga foi homérica.
Ver Dr. Octopus e Lex Luthor em seus uniformes e conceitos clássicos e sem os enfadonhos conflitos psicológicos de hoje também ajudaram a trama, que mostra os dois supervilões unidos para chantagear o jornal Planeta Diário (não sem antes tentar destruir a cidade). Para todos os efeitos, os personagens pertenciam ao mesmo universo e já haviam ouvido falar uns dos outros.
No Brasil, a Batalha do Século foi publica pela Ebal, em 1977, no formato original, e duas vezes pelaEditora Abril, respectivamente em 1986 e 1993, em formatinho.
Mas 2016 também marca os 35 anos do segundo encontro entre o Escalador de Paredes e o Último Filho de Krypton.
Dessa vez editado pela Marvel, cumprindo o acordo de alternância com a DC, Superman and Spider-Man foi produzido por Jim Shooter (roteiro), John Buscema (desenhos) e Bob McLeod, Terry Austin, Walter Simonson, Klaus Janson, Joe Sinnott, Steve Leialoha, Bob Layton, Joe Rubinsein e Bob Wiacek na arte-final, com sugestões de argumento de Marv Wolfman, e lançado em 1981.
Embora não compartilhe da mesma grandiosidade, manteve o mesmo nível de entretenimento do primeiro crossover. Os vilões da vez foram o Doutor Destino, monarca da Latvéria, e o Parasita, capaz de absorver energia vital de qualquer um próximo a si. Como bônus, o Incrível Hulk da Marvel e a Mulher-Maravilha da DC foram os “astros especialmente convidados” .
A trama começa em Manhattam, com o herói aracnídeo encarando criminosos armados com rifleslaser e computadores de mira. Mal sabia ele que estava sobre um dos vários complexos construídos pelo Doutor Destino, ao redor do mundo, mais uma peça de seu Plano Ômega de conquista global. Em seguida, Hulk, agindo de forma aparentemente irracional, ataca Metrópolis, e enfrenta a resistência do Superman. Na verdade, o Gigante Verde estava sendo manipulado por Destino para libertar o Parasita de sua prisão. Clark Kent e Peter Parker trocam de ambiente profissional, indo este vender suas fotos para o Planeta e o primeiro, empregado pelo Clarim Diário, garantindo um inusitado entrosamento com os coadjuvantes de cada mundo. No fim, coube a Superman e Homem-Aranha salvar o mundo novamente.
O crossover foi publicado no Brasil pela RGE, em, 1982, e Editora Abril, em 1983, ambas as vezes em formatinho.
Os dois heróis voltaram a se encontrar outras vezes, nos anos 1990 e na década de 2000. Mas, no coração e na mente dos fãs de quadrinhos, nada superou o impacto da primeira vez.
Marcus Ramone promoveu um crossover entre Superman e Homem-Aranha um ano antes de Marvel e DC fazerem isso nos quadrinhos, graças aos seus bonequinhos da Gulliver.